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MAKING THE CUT DESDE CRIANCINHA - ARAPOTIENSE É DESTAQUE NA GAZETA DO POVO


 PorReinaldo Bessa.

Aos 8 anos de idade, Rafael Chaouiche fez seu primeiro e inesquecível corte, mostrando que seu destino estava sendo decidido numa divertida travessura. Munido com uma tesoura que pegou escondido da mãe, ele cortou de ponta a ponta a parte de trás do hábito da Irmã Clarice, sua professora, em plena sala de aula do Colégio São Tomás de Aquino na pequena Wenceslau Braz, interior do Paraná. Havia apostado com um coleguinha que faria isso.


A freira encarou a peraltice com bom humor, menos a mãe. Como castigo, ela o transferiu para um colégio público na ainda menor Calógeras, onde a família residia. Duas décadas depois, o menino irrequieto viria a conquistar o segundo lugar no reality show norte-americano de moda Making the Cut, apresentado em Los Angeles pela dupla Heidi Klum e Tim Gunn. O primeiro colocado foi o designer suíço Yannik Zamboni, que levou o prêmio de US$ 1 milhão. Mesmo sem falar inglês, ele foi o único designer de moda brasileiro selecionado para o programa cultuado no universo fashionista. Depois de sua participação, em setembro passado, Chaouiche – nome de sua marca e pelo qual prefere ser chamado – viu sua vida dar uma reviravolta.

Revistas badaladas de moda e outros veículos de comunicação passaram a correr atrás dele para conhecer melhor seu trabalho e ouvir sua história. Filho adotivo da professora de matemática Jaqueline Chaouiche e do funcionário público Reinaldo Mendes, ele entrou para a família com apenas três dias de vida. Um ano e meio depois sua mãe engravidou de Gabriel, hoje com 26 anos. Chaouiche diz que a mãe, falecida há poucos meses de câncer, sempre o apoiou em tudo. Já o pai, hoje seu fã confesso, nem tanto. “Minha mãe sempre quis ter uma filha e meu pai brincava que eu era a menina que ela queria ter”, conta o estilista em uma sala cheia de araras com roupas coloridas em seu ateliê numa movimentada esquina do bairro do Batel em Curitiba. O lugar, que já foi um restaurante japonês, foi cedido pelo pai de seu namorado, o advogado Moisés Zugman, com quem vive há oito anos. Desde pequeno, ele gostava de vestir bonecas. A mãe o ajudava a desenhar as roupinhas. O único membro da família que não achava graça na brincadeira era o avô materno, imigrante libanês. Por causa disso, Jaqueline deixou de falar com o próprio pai por um tempo. “Minha mãe tinha uma proteção maior comigo por eu ser adotado”, diz. Quando tomou coragem para contar ao pai que era gay, com 15 anos, ele respondeu sereno: “Nem precisava contar, né?”.


Chaouiche tem 11 coleções com o seu sobrenome e figura no catálogo da poderosa Amazon. | Arquivo Pessoal

Na nova escola, entrou para o grupo de dança, onde fez sucesso. A diretora de um colégio particular da vizinha Arapoti o viu em uma apresentação e se encantou com os embalos do aprendiz de Tony Manero. Procurou seus pais e ofereceu uma bolsa de estudos integral. A essa altura ele já estava com 13 anos. A bolsa era para a escola de uma colônia de holandeses, a mais cara da região. Chaouiche entrou para o Grupo de Ginástica Rítmica, no qual permaneceu por três anos, mas continuava sonhando com a moda. Com a inscrição do grupo em um festival de dança, a professora da turma propôs que ele desenhasse os trajes das alunas dançarinas. Chaouiche não pensou duas vezes. Correu atrás de tecidos, desenhou tudo e entregou a uma costureira. “Foi minha primeira coleção”, orgulha-se. Nascia naquele momento, aos 16 anos, o estilista. Em 2011 convenceu os pais a deixar que se mudasse para Curitiba com a promessa de fazer faculdade de moda. O pai pagava os estudos e o apartamento alugado, mas aconselhou o filho a arrumar um emprego para ter um dinheiro extra para outras despesas. Foi trabalhar em uma operadora de telefonia cuja sede ficava no bairro do Portão. Oito meses depois foi promovido e passou a trabalhar no Centro de Curitiba.


Uma noite, numa balada, conheceu um rapaz que o convidou a trabalhar com produção de moda como free-lancer. Aceitou na hora e pediu a conta na firma, onde já estava havia um ano e meio, sem contar aos pais. Passou a ganhar bem menos, mas estava feliz. “Isso me abriu outras portas”, conta. Uma delas em São Paulo. A convite de um scouter da agência Way Model, foi ser assistente dele durante a São Paulo Fashion Week. Seu trabalho era acompanhar as modelos nas provas de roupas para as grifes que iam desfilar. Por causa do trabalho, matou duas semanas de aulas na faculdade e acabou reprovado por faltas. Ao receberem o boletim online, os pais surtaram. O pai o tirou da faculdade e avisou que deixaria de pagar o apartamento em que morava. Chaouiche reconhece que o pai estava certo. A mãe, como sempre, não o deixou na mão e se ofereceu para rematriculá-lo, o que ele recusou. Foi morar de favor numa casa nos fundos da agência Mega Model, no Centro Cívico, que abrigava as modelos de outras cidades. “Às vezes só almoçava ou só jantava”, diz sobre o período de vacas magras. Foi sua fase louca, admite. Estava perto dos 20 anos e com a vida bagunçada. Um amigo próximo, bastante espiritualizado, o convidou a participar de uma sessão de Johrei. Segundo ele, tudo começou a mudar para melhor. Surgiram novos trabalhos, com bons cachês. Até hoje é praticante do método. Até no amor as coisas melhoraram.



Em 2015 conheceu o atual companheiro na formatura de um amigo comum. Nunca mais se largaram. Chaouiche se mudou para o apartamento dele. “Fui pra ficar uma semana e fiquei três meses”, conta empolgado. Com um lugar pra chamar de seu, inscreveu-se no concurso “Como manda o figurino” do programa Fantástico da Globo. Aprovado, passou um mês no Rio de Janeiro. Ficou em segundo lugar. Na volta, com o cartaz adquirido, foi contratado pela equipe do programa Estúdio C, exibido nas tardes de sábado na RPC, para vestir a apresentadora Daiane Fardin e dar dicas de moda no ar. Com direito a salário fixo e carteira assinada. Com o novo emprego, foi morar com o namorado em um apartamento alugado, oficializando a união. A temporada no reality do Fantástico lhe valeu convites para desenhar os looks da atriz Taís Araújo para a série Mister Brau. Também assinou figurinos para outras globais, como Grazi Massafera, Claudia Raia e Regina Duarte enquanto esteve na competição.

O estilista participou do quadro "Como manda o figurino”, do Fantástico.| Arquivo Pessoal

Com a visibilidade em alta, foi chamado para criar um desfile no Lab Moda do shopping Pátio Batel, uma vitrine para criadores locais. O namorado investiu R$ 30 mil no projeto. Nascia ali, oficialmente, a marca Chaouiche, conhecida pelas cores exuberantes e formas esvoaçantes. O desfile aconteceu no rooftop do shopping a pedido dele. As famílias de ambos foram prestigiar. Terminado o evento, veio a pergunta: “O que fazer com a marca?”. Por sugestão da empresária de moda e amiga Michelle Jamur, levaram a coleção criada para o desfile para mostrá-la a um curador de marcas femininas de São Paulo. Ele e Moisés colocaram as 50 peças no carro e pegaram a estrada. Foram ao tal showroom no Itaim-Bibi. Depois de examinar as peças, o curador pediu R$ 20 mil para expor a coleção em suas araras. Mas, bem conversado, deixaria por R$ 15 mil. Os dois se entreolharam e ficaram sem ação. Já estavam recolhendo as roupas pra cair fora quando uma cliente ricaça surgiu e perguntou ao curador: “E essas peças, de quem são?”. Chaouiche teve autorização para provar algumas roupas na mulher. No provador, ele contou que fora a São Paulo na esperança de conseguir mostrar suas criações. Entre uma alfinetada e outra na dondoca, ouviu uma proposta que fez seus olhos semi puxados brilharem. “Quero investir em você”. A mulher era casada com um empresário judeu, dono de uma marca fitness com loja no luxuoso shopping paulistano Cidade Jardim. Ao ver um acessório judaico em seu pescoço, presente do namorado, ela perguntou se Chaouiche era judeu. Duas semanas depois eles se reuniram com o investidor para acertar os detalhes da parceria. O homem fez uma exigência: que ambos se mudassem para São Paulo. Dito e feito. Ele pediu a conta na RPC e Moisés no escritório de advocacia onde trabalhava em Curitiba, situação que não agradou de início às famílias de ambos. Seis meses depois as coisas começaram a dar errado. A mulher passou a criar dificuldades no dia a dia. Ela queria que ele mudasse o nome da marca, com o que Chaouiche não concordou. Diante do impasse, ele e Moisés juntaram tudo e voltaram para Curitiba. “Mas foi muito precioso enquanto durou”, reconhece.

Sem lenço e sem documento e com os pais dispostos a não mais bancar suas idas e vindas, o estilista recorreu a um parente, que lhe emprestou R$ 15 mil para recomeçar. Com o dinheiro, desenhou uma coleção, que vendeu bem em multimarcas de luxo que lhe abriram as portas. Veio a segunda coleção, também sucesso de vendas. Hoje, ele já soma 11 coleções com o seu sobrenome e, desde agosto último, figura no catálogo da poderosa Amazon. Chaouiche foi o primeiro designer de moda brasileiro a pisar na sede da plataforma americana em Seattle, onde recebeu uma mentoria de Christine Beauchamp, presidente da divisão de moda da empresa, como prêmio pelo segundo lugar no Making the Cut. A coleção será lançada para todo o mundo. Além disso, ele também será o primeiro designer brasileiro a desenvolver uma coleção para a americana Champion, outro fruto de sua participação no reality. Chaouiche só lamenta o fato de a mãe não estar saboreando seu sucesso. Dona Jaqueline certamente estaria muito orgulhosa do filho peralta que fez seu primeiro corte no hábito da Irmã Clarice em plena sala de aula.

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