‘Saga’ de desempregada de 62 anos por carne acaba com 3 quilos de carcaça e pele por R$ 12

O aumento no número de brasileiros passando fome passou de 10,3 milhões em 2018, para 19,1 milhões em 2020

Por BBC Brasil em 14 de outubro, 2021 as 08h47.

FELIX LIMA/ BBC NEWS BRASIL

Um quilo de linguiça por R$ 18. Peito de frango por R$ 15,99, pé a R$ 7,99 e pescoço, R$ 5,29. A passadeira Lindinalva Maria da Silva Nascimento, de 62 anos, olha todas as opções na vitrine do açougue, mas todas são muito caras para os R$ 20 que ela tem para comprar carne para ela, o marido, um filho e dois netos comerem durante uma semana.

A BBC News Brasil a acompanhou em quatro açougues no Itaim Paulista, bairro do extremo leste de São Paulo, onde ela mora. Depois de quase duas horas, ela encontrou a única proteína animal que conseguiu comprar com R$ 12 para a família: 3 kg de carcaças e peles de frango.

Lindinalva trabalhava como passadeira em uma confecção no Bom Retiro, no centro de São Paulo, a cidade mais rica da América Latina. Com a chegada da pandemia, em 2020, foi dispensada, segundo ela, por fazer parte do grupo de risco.

Desde então, está desempregada e com a geladeira vazia.

“Antes da pandemia, a gente comprava alcatra à vácuo. Para quem estava acostumado a trabalhar, entra em pânico numa situação dessas. Eu tinha a geladeira lotada de carne. Hoje, tem uns frascos de óleo feito com osso de boi e pele de frango e um coentro congelado que meu vizinho doou”, diz chorando à reportagem, ao lado da geladeira aberta.

Uma das pessoas que também a ajudam é a Maria Amélia, presidente da associação Canto Nascimento, que distribui cestas para famílias pobres do bairro. “Sempre me dá um mantimento quando estou desesperada”, diz Lindinalva à reportagem.

| CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE |


Peregrinação por sobras

A perda generalizada de renda e emprego, a alta da inflação, além dos constantes aumentos dos combustíveis e do gás, arrastou multidões para a pobreza. Com tanta concorrência em busca de sobras para colocar o mínimo de comida no prato da família, Lindinalva passa o dia em uma peregrinação em busca de açougues e avícolas que vendem ossos e carcaças de aves.

“Muitos dizem que não vão mais vender os ossos e que estão em falta. Mandaram eu passar aqui de novo umas 17h ou 18h para eles arrumarem uns ossos para eu comprar”, disse depois de sair de um açougue perto da casa dela.

Lindinalva explica que, tanto os ossos quanto as peles de frango que ela compra, custam cerca de R$ 4 cada quilo.

“Os ossos eu cozinho e depois tiro os pedacinhos de carne que sobram para a gente se alimentar. Aproveito para colocar no feijão para ficar um gostinho de carne. Ontem foi assim. Com R$ 12 já dá para comer dois dias. Verdura não dá mais para comprar, está muito caro”, afirmou.

Já a pele do frango, ela conta que frita numa panela sem óleo. A gordura que acumula no recipiente, Lindinalva guarda em potes vazios de maionese e de requeijão para depois fritar outros alimentos e usar no preparo de outras refeições.

O aumento no número de brasileiros passando fome passou de 10,3 milhões em 2018, para 19,1 milhões em 2020 (quase 10% da população), o que representa um crescimento de 85% em dois anos. Essa alta ainda não reflete a piora da crise, agravada pela pandemia no Brasil.

Essas pessoas fazem parte de um contingente de 116,8 milhões de brasileiros que convivem com algum grau de insegurança alimentar — quando uma família diz ter preocupação com a falta de alimentos em casa ou já enfrenta dificuldades para conseguir fazer todas as refeições. Esse número corresponde a 55,2% dos domicílios do país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Penssan.


Para ler a matéria completa na BBC Brasil CLICK AQUI.

PUBLICIDADE


Postar um comentário

0 Comentários

CONSTRÓI MATERIAIS E SERVIÇOS PARA CONSTRUÇÃO











ARAPOTI WEATHER