Se o brasileiro já tinha que se preocupar com os preços dos alimentos nas prateleiras dos supermercados, a disparada de preços afeta as famílias na hora de prepará-los. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicou relatório em que indica, pela primeira vez na história, um valor de três dígitos para o gás de cozinha, com preço médio de R$ 100,44 até semana passada.
Os preços do gás de cozinha pesam no dia-a-dia das famílias de renda mais baixa. Insumo indispensável nos lares brasileiros, o botijão tem custado quase 10% do salário mínimo, o que obrigada os cidadãos a economizarem como podem nos gastos.
Flávia da Silva, de 33 anos, teve que mudar a rotina doméstica para se adaptar à realidade. Mãe de dois filhos, a manicure tem aprendido novas receitas que demandam menos do fogão. “A gente tem usado muito o microondas aqui em casa. Eu aprendi na internet e comecei a cozinhar muita coisa por lá. O forno aqui em casa é a gás também, então quase não temos usado”, disse.
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Equilibrando o orçamento
A família de Flávia também tem economizado nas compras de mercado para tentar equilibrar as contas com o aumento do gás, além da inflação nos próprios alimentos. Mesmo assim, as economias não suprem o prejuízo dado pelo aumento do botijão. “Não tem como fugir do fogão pra sempre, né? Mesmo a gente tentando usar outras coisas o tempo todo, pelo menos uma vez no dia eu tenho que cozinhar no fogão. E, aí, não posso ficar sem botijão”, explica. “Um botijão desses normais dura dois meses aqui em casa e eu passo esses dois meses pensando como vou ter que comprar outro”, lamenta Flávia.
Dona da creche Tia Tatá, localizada na Estrutural, região administrativa do Distrito Federal, Maria da Conceição Ferreira, também sofre na hora de pensar em comprar um novo botijão. “Hoje não tem mais como ter dois botijões, nem pensar em um reserva para a creche. Ficamos rezando para que demore a acabar. Tenho um lugar que o rapaz me fornece mesmo que eu não tenha dinheiro. Se eu fosse pedir dois botijões dá R$ 240, então está bem complicado.”, contou.
Conceição vive sem renda fixa, apenas com o dinheiro que arrecada de dois em dois meses em um bazar e as doações — que, de acordo com ela, diminuíram drasticamente. Com a pandemia, a creche fechou. No lugar das atividades infantis, começou a doar refeições. A proprietária improvisou um restaurante comunitário, atendeu uma média de 350 a 400 pessoas por dia, somente no almoço. A creche reabriu faz dois meses, no local oferece diariamente quatro refeições para 81 crianças. Por isso, Maria estima que o gás de cozinha só dura 17 dias.
Para garantir o benefício, ela teve que abrir mão do botijão da própria casa para não desfalcar a creche. “Moro em cima da creche, então eu usava dois botijões, um para creche e outro para a minha casa. Quando o gás aumentou, tive que tirar o botijão pequeno da minha casa pra colocar na creche. Agora estou com um só e tenho que descer para fazer a minha comida”, afirmou.
Correio Brasiliense
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