Cooperação e conhecimento de ancestrais imigrantes são principais forças de produtores do agronegócio paranaense
Viver em um mundo cada vez mais globalizado não significa apenas abraçar novas culturas e realidades, mas também olhar com muito carinho e orgulho para sua origem e entender como seus costumes são estreitamente impactados por ela. Esse é o desafio para os milhões de brasileiros que têm ascendência dos diversos povos que ajudaram a colonizar o Brasil a partir do século XIX. Com a pandemia, essa nova geração viu no negócio familiar uma possibilidade de se reinventar e alcançar novos objetivos, aproveitando o conhecimento e a resiliência que aprenderam com os pais e avós ao longo dos anos de imigração.
| CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE |
E esse esforço para manter o legado familiar se reflete até mesmo na economia brasileira como um todo. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional é fruto do trabalho de empresas familiares. Essas companhias, inclusive, geram 75% dos empregos no país. Números que podem ser potencializados na pandemia. Uma pesquisa feita pela consultoria Banyan Global mostrou que essas empresas tendem a sair melhor da crise por meio da resiliência e que 80% delas, em todo o mundo, estão otimistas quanto ao futuro.
Nesse cenário, a influência dos negócios familiares criados por descendentes de imigrantes é grande em todo o país, e no Paraná não é diferente. O estado conta hoje com uma imensa diversidade cultural, resultado da mistura dos povos que chegaram às terras paranaenses com a mesma vontade de prosperar, mas sem abandonar suas origens e valores, como respeito, dedicação e união.
No caso da colonização holandesa, por exemplo, o Paraná registra a presença de imigrantes que saíram do norte do país europeu e se instalaram em regiões como Carambeí, Castrolanda e Arapoti, no interior do estado. “Na Região dos Campos Gerais, a influência holandesa é muito forte. Muitos de nossos descendentes foram responsáveis pela construção de peças importantes para a cultura e economia local, como é o caso das cooperativas, que hoje são uma das principais fontes de renda da região”, explica o presidente da Associação Cultural Brasil-Holanda (ACBH), Koob Petter.
Essa é a gênese da família do agropecuarista Henri Martinus Kool, que aprendeu a passar adiante os costumes dos avós e pais holandeses, imigrantes em solo brasileiro desde a década de 1960. “Mantivemos muitos costumes familiares, como a língua, comidas e algumas vestimentas típicas holandesas”, diz Kool. Além dos traços culturais, o trabalho com suínos também foi herdado por Henri, que possui contato com o agronegócio desde criança, quando iniciou o aprendizado sobre o ofício dos Kool.
Segundo ele, que fornece suínos para a Alegra, indústria de carne suína da Unium, marca institucional das indústrias das cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal, parte importante do desenvolvimento do negócio da família é a prática da intercooperação que permitiu que a produção prosperasse de forma eficiente. “As cooperativas da Região dos Campos Gerais foram fundadas por imigrantes holandeses e isso está bem presente na cultura das cooperativas do grupo ABC como uma característica do nosso trabalho. Atualmente, contamos com 3.000 animais em engorda - e toda a nossa produção vai para a Alegra”, destaca o cooperado da Capal.
Cultura preservada
Já os familiares do cooperado da Frísia e produtor de trigo, Bauke Dijkstra, chegaram ao Brasil dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947. Com a experiência familiar acumulada há mais de setenta anos no País, Bauke exalta a importância da cultura do trabalho para os holandeses. Ele ressalta, inclusive, que o cooperativismo está em seu DNA. “Meu pai plantava trigo desde criança. E o imigrante tem essa característica de ser empreendedor. Por isso, 100% da minha produção vai para a cooperativa. Sou sócio há mais de 40 anos e meu pai e meu avô também eram”, conta. “As cooperativas de origem holandesa e sua intercooperação deram um impulso gigantesco para o desenvolvimento da economia dos Campos Gerais.”
No Brasil desde a década de 1950, a família do agropecuarista Ronald Henry Wolters, cooperado da Castrolanda, também manteve sua cultura de forma que os filhos e netos continuassem a preservar suas raízes holandesas. “Minha relação com a imigração é por meio de histórias que meus avós contam até os dias de hoje; os costumes e a cultura que inevitavelmente deixam rastros em nossa família, como a fé em Deus, o apoio aos familiares, a união, o trabalho e a dedicação”, afirma o brasileiro com sangue holandês.
Assim como no caso dos Kool, a herança deixada pelos familiares de Ronald está atrelada à indústria de lácteos. “Meu avô trouxe três vacas holandesas para o Brasil e assim começou a exercer atividade no País. Meu pai deu continuidade ao serviço e, há seis anos, eu e meu irmão estamos atuando na operação”, salienta o cooperativista. A produção familiar, nos dias atuais, chega a 58.000 litros por dia, com 1.400 vacas em lactação.
Ronald ainda destaca que, devido às características da imigração holandesa, a valorização do trabalho em grupo e cooperativo foi o diferencial para que as famílias “vencessem” em um país distante com uma língua completamente desconhecida. “A cooperativa foi fundamental no processo de desenvolvimento da atividade leiteira, pois deu força para a estruturação de pequenos produtores, que ganharam competitividade no mercado, além de todo o desenvolvimento técnico que está à nossa disposição”, analisa.
0 Comentários
Política de moderação de comentários: A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro ou o jornalista responsável por blogs e/ou sites e portais de notícias, inclusive quanto a comentários. Portanto, o jornalista responsável por este Portal de Notícias reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal e/ou familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.
Emoji