O movimento de ocupação de escolas promovido, em todo país, por alunos e organizações estudantis que rejeitam a proposta de reformulação do Ensino Médio e também são contrários a PEC 241/55 vem dividindo opiniões e chamando a atenção do debate público no Brasil.
Por conta das ocupações, mais de 191 mil estudantes foram impedidos de realizar, neste final de semana (5 e 6), o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Isso porque, mais de 300 locais de prova, em 126 municípios de diversos estados foram ocupados por movimentos e estudantes com essas bandeiras.
Quando fazia o anúncio sobre o adiamento do exame para os estudantes afetados pelas ocupações, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, que organiza o Enem, Maria Inês Fini, afirmou que os estudantes que participam deste movimento são orientados por partidos políticos e professores.
A opinião de Maria Inês é compartilhada pelo cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília, a UnB. Para ele, todo cidadão tem o direto de se manifestar e de reivindicar causas, no entanto, esse direito acaba quando ele suprime a liberdade do outro, como é o caso, avalia.
“É diferente você ir às ruas para protestar contra uma medida provisória, outra coisa é você impedir que as pessoas tenham aula. Uma coisa é você impedir que estes alunos que estão prestando seleção para irem para as faculdades, no caso do Enem, possam realizar o teste. Então, é claro que você está prejudicando outras pessoas. Então, você não pode fazer uma manifestação que tem como base o prejuízo de outras pessoas. Esse aspecto demonstra o caráter altamente antidemocrático e partidário deste movimento. Então, não é nem um movimento de algumas associações estudantis, é um movimento de alguns partidos políticos derrotados eleitoralmente”.
A presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, a Ubes, Camila Lanes, contesta a afirmação de que o movimento é antidemocrático. Para ela, a partir do voto a favor dado, pelos próprios estudantes, em assembleias, os alunos têm o direito de ocupar as próprias escolas para apresentar suas reivindicações.
“O método utilizado pelos estudantes para resistir contra a Medida Provisória e a PEC 241 é totalmente legitimo e democrático a partir do momento que os estudantes compreendem a importância do voto e do debate e a partir do momento que os estudantes estão dispostos a resistir e ocupar suas instituições de ensino para tentar mostrar o Governo Federal que nós não estamos de acordo com essas medidas”.
Mas na opinião do estudante e coordenador de empreendedorismo da União Democrática Acadêmica, a U.D.A, Bráulio Morais, as assembléias não consultam todos os alunos e são feitas de forma autoritária. De acordo com ele, o movimento é partidário.
“Essas ocupações estão sendo totalmente autoritárias, eles vão prejudicar muitos alunos que vão fazer o Enem, que vão ingressar nas universidades. E, é engraçado. A gente tem um lado muito critico, porque eles estão reclamando dessa PEC que limita o teto de gastos, mas eles não se posicionaram quando a (ex-presidente) Dilma cortou 10 bilhões da educação. Então, a gente vê isso como algo muito partidário e não, realmente, para defender os interesses da educação, dos alunos, da melhoria e da qualidade”.
Segundo a presidente da Ubes, Camila Lanes, o movimento está aberto ao diálogo com quem tiver disposto a debater com os estudantes. Ela afirma que as ocupações vão barrar a Medida Provisória proposta pelo Governo para reformular o Ensino Médio.
“Com a nossa mobilização nos vamos barrar esta medida provisória, porque não só ocupando escolas nos estamos, mas também fazendo um grande trabalho de conscientização com pais, vizinhanças e comunidade escolar que queiram e estiverem dispostos a dialogar e debater com os estudantes”
Na última terça-feira (1), durante audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, Camila Lanes, afirmou os estudantes só vão desocupar as escolas quando o Governo Federal retirar Medida Provisória que reforma do ensino médio.
De acordo com a Ubes, mais de 1000 escolas de todo o Brasil estão ocupadas contra as medidas apresentadas pelo governo Michel Temer.
Reportagem, João Paulo Machado
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