FOTO: VOZ DO POVO
No Paraná a linha férrea e o esporte mais popular do Brasil por décadas tiveram uma relação muito estreita, mas que hoje se limita, em grande parte, apenas a bonitas lembranças de quem viveu essa época.
Da clássica e já centenária partida disputada entre Curitiba e Operário de Ponta Grossa onde os clubes viajaram de trem a cidade do rival até times que começaram em associações de funcionários da linha férrea, o futebol e a rede ferroviária sempre caminharam muito próximo no Paraná.
O grande propulsor econômico principalmente do interior na primeira metade do século passado era a passagem do trem.
Como as primeiras associações formadas no começo do século passado eram veiculadas aos ferroviários, fatalmente muitos dos primeiros times surgiram exatamente dessas associações, sendo, portanto, formado por operários da rede, ou simplesmente se formando a partir dos jogos entre os funcionários da linha.

“O grande propulsor econômico principalmente do interior na primeira metade do século passado era a passagem do trem. A linha férrea significava progresso e trazia consigo tudo que tinha direito. Uma das heranças é justamente o futebol, uma vez que os operários em sua maioria gostavam muito de futebol, que aquela altura já se popularizava rapidamente e despontava como o esporte mais praticado no país”, relata o historiador Francisco Mendes da Costa.
Clubes têm em suas origens a participação dos ferroviários, sendo que em alguns casos foram formados exclusivamente por ferroviários. O atual Paraná Clube, da capital, e o Operário Ferroviário, de Ponta Grossa, sejam talvez os dois melhores exemplos hoje no Estado”, continua.
O Paraná Clube nasceu de uma fusão entre Colorado e Pinheiros, que por sua vez também vem de uma fusão do Clube Atlético Ferroviário, que foi uma potência do futebol paranaense nos anos 30 e que foi dono do Estádio Durival de Britto, a Vila Capanema (hoje pertencente ao Paraná Clube), na época o estádio mais moderno de Curitiba e que sediou jogos da Copa de 50.
Já o Operário Ferroviário nasceu, assim Como o Clube Atlético Ferroviário, das peladas disputadas entre os funcionários da rede. Por se tratar de um grande centro, o time tomou corpo e passou a atuar de forma profissional, seguindo na ativa até hoje.

O trajeto da linha férrea em 1935 no Paraná, incluía Wenceslau Braz, Jaguariaíva, Arapoti, Siqueira Campos, dentre outras cidades do norte pioneiro. O trecho entre Wenceslau Braz e Jaguariaíva, encontra-se desativado atualmente.
NA VÁRZEA
Mas se em cidades maiores os clubes conseguiram a profissionalização, pelo interior estádios continuam sendo palcos do glorioso futebol amador, mais rico em histórias que qualquer equipe profissional, assim como seguem vivas as lembranças de equipes famosas formadas por funcionários da rede.
Os exemplos pipocam nos quatro cantos do Paraná. Um dos mais emblemáticos deles está em Wenceslau Braz, no Norte Pioneiro, onde o Estádio Presidente Vargas(que por sinal é o único da cidade) foi construído pelos operários da linha férrea ao lado da vila habitada por eles.
Até hoje o estádio está na área da antiga rede ferroviária, hoje Rumo ALL. Não à toa, o local é conhecido como Campo do Ferroviário.
"Se na vila restam apenas duas ou três casas originais e nem a estação ferroviária existe mais, o estádio continua sediando os campeonatos"
O time da cidade, famoso no futebol amador da região em décadas passadas, também levava o nome de Ferroviário e era formado em sua maioria por trabalhadores da rede.
Se na vila restam apenas duas ou três casas originais e nem a estação ferroviária existe mais, o estádio continua sediando os campeonatos de futebol da cidade, tendo se tornado uma herança permanente aos moradores de Wenceslau Braz.
Além do Ferroviário de Wenceslau Braz, outros times com essas origens fizeram nome pelo Estado em décadas passadas, casos do Ferroviário Esporte Clube, de União da Vitória, Clube Atlético Ferroviário, de Morretes, e o Esporte Clube Recreativo Ferroviário, de Jaguariaíva.
SAUDADES DA LINHA FÉRREA
"Muito do patrimônio da rede ferroviária jaz no esquecimento e abandono"
Contudo, essa história tão bonita vive dias já distantes dos áureos tempos. Muito do patrimônio da rede ferroviária jaz no esquecimento e abandono. Uma ou outra associação insiste em sobreviver, mas cada vez com menos antigos operários.

Times amadores de futebol dessa origem obviamente não existem mais, assim como a maioria avassaladora de clubes e outras entidades ligadas aos ferroviários.
No futebol profissional o cenário também não é dos mais favoráveis. O Paraná Clubenão ganha um título de expressão há algum tempo e também não consegue voltar para a elite do futebol brasileiro.
O Operário, clube de menor expressão mas com grande tradição, foi rebaixado para a Série B do Campeonato Paranaense em 2016 após ser campeão em 2015. Para piorar, neste ano o clube não conseguiu o acesso de volta à primeira divisão após despontar como favorito. A grande luz no fim do túnel fica na disputa da Série D do campeonato Brasileiro, onde o time de Ponta Grossa está muito perto do acesso àSérie C, feito inédito em sua história e que lhe garantirá calendário e renda para o ano que vem.
Que o belo passado deste tão importante segmento da sociedade em décadas anteriores sirva para ajudar o que restou no presente a, literalmente, entrar nos trilhos.
TEXTO E FOTOS: CENTRAL ZERO - SANTO ANTONIO DA PLATINA
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