Estudante que viajava 18 km para ir ao colégio cursa Pedagogia e acredita que é possível mudar o cenário da educação no Brasil
O último Censo Agropecuário, divulgado em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou forte tendência na queda do êxodo rural no Paraná – fenômeno presente nas últimas três décadas no Estado. Porém, muitos ainda apostam na mudança para capital como esperança para uma vida melhor.
Este é o caso do estudante Eduardo Marcomini que decidiu trocar a cidade natal, Ibaiti, por Curitiba há seis anos. O terceiro dos quatro filhos de uma típica família do interior cresceu diante de dificuldades para ir à escola, enfrentando a distância, as estradas e o ônibus escolar que estragava com frequência ou não passava. “Ao completar 15 anos, decidi sair da casa dos meus pais e morar com minha avó para poder trabalhar e estudar. Lembro que precisava viajar 18 km até o colégio e que trabalhava em um mercado onde fui de repositor a açougueiro. Sempre tive muita força de vontade e dedicação, pois acreditava que um dia ainda faria um curso superior”, relembra.
Em 2010, Marcomini resolveu fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Mesmo sem saber muito bem o que era, decidi me inscrever, pois lembrei que os professores do colégio nos incentivavam a participar. Fiz a prova e quando saiu o resultado, busquei mais informações. Então, me inscrevi para uma bolsa de estudos do Prouni, para o curso de História”. No ano seguinte, com a confirmação de que tinha conseguido uma bolsa de 50% do Programa Universidade para Todos (Prouni), ele passou por uma das maiores transformações da sua vida. “Precisei tomar uma decisão muito difícil. Saí do trabalho no mercado, deixei toda a minha família e vim para Curitiba”, comenta emocionado.
A mudança de cidade aconteceu justamente no período em que, segundo dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), houve significativa evolução no número de ingressantes em cursos universitários. Até 2015, considerando quem cursava graduação em qualquer período ou fase, percebe-se um aumento de 2,5% se comparado com os anos anteriores. Se avaliado um período mais longo, o diagnóstico reflete ainda mais o crescimento do ensino superior no Brasil, estimulado pelo Prouni - entre 2005 e 2015, o aumento no total de matrículas foi de 75,7%.
Beneficiado pelo Prouni, o ibaitiense começou a cursar História, com uma bolsa de 50%. Porém, percebendo que desejava outro caminho, transferiu para Pedagogia. Pouco tempo depois ele soube da existência de bolsas remanescentes do Programa. “Minha condição financeira não era fácil, pois precisava pagar o aluguel, além de todas as outras despesas. Certo dia, ao acessar o site da Uninter, vi a publicação do edital, e percebi que poderia concorrer. Com todos os documentos necessários, fui até setor responsável, entreguei a documentação, aguardei a análise e depois de alguns dias tive a resposta de que havia conseguindo uma bolsa integral. Se eu não tivesse conseguido a bolsa, hoje eu não estaria no ensino superior”, acrescenta. O reitor da Uninter, Benhur Gaio, explica que as vagas remanescentes são aquelas que não foram preenchidas nas chamadas regulares e que alguns critérios precisam ser preenchidos para obter uma das bolsas. “ A opção não está disponível apenas para quem está iniciando a graduação, pode ser para alunos que já estão cursando, mas estão com dificuldades financeiras, por exemplo. Porém, é requisito obrigatório ter feito o Enem a partir de 2010, alcançando o mínimo de 450 pontos, além de não ter zerado na redação. A questão de conseguir bolsa parcial ou integral também depende da renda”.
Cheio de sonhos, o estudante acredita que é possível mudar o atual cenário da educação no país. “Quero estar em continuo processo de aprendizado, reinventando e criando novas formas de ensinar. Quero que todos tenham as mesmas oportunidades, estudem, se dediquem e acreditem que vale a pena sonhar”, conclui.
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